Fernando Pessoa | 3 de junho de 1888 - 30 de novembro de 1935

Nascido a 13 de junho de 1888, no Largo de São Carlos, em Lisboa, é autor de uma obra imensa que está à guarda da Biblioteca Nacional de Portugal.

A biblioteca particular de Fernando Pessoa está depositada na Casa Fernando Pessoa - que é a casa onde o escritor habitou nos últimos 15 anos da sua vida.

Fernando Pessoa começou a escrever quando era ainda criança, fazendo-o sobretudo em português. Um dos maiores nomes da literatura em língua portuguesa, a originalidade da sua obra está principalmente na criação de múltiplas personalidades poéticas, em que as diferentes perspetivas se confrontam ou comparam.

Fernando Pessoa morreu em Lisboa, no dia 30 de novembro, com 47 anos de idade.

Se eu morrer novo,

Sem poder publicar livro nenhum,

Sem ver a cara que têm os meus versos em letra impressa

Peço que, se se quiserem ralar por minha causa,

Que não se ralem.

Se assim aconteceu, assim está certo.

Mesmo que os meus versos nunca sejam impressos,

Eles lá terão a sua beleza, se forem belos.

Mas eles não podem ser belos e ficar por imprimir,

Porque as raízes podem estar debaixo da terra

Mas as flores florescem ao ar livre e à vista.

Tem que ser assim por força. Nada o pode impedir.

Se eu morrer muito novo, oiçam isto:

Nunca fui senão uma criança que brincava.

Fui gentio como o sol e a água,

De uma religião universal que só os homens não têm.

Fui feliz porque não pedi coisa nenhuma,

Nem procurei achar nada,

Nem achei que houvesse mais explicação

Que a palavra explicação não ter sentido nenhum.

Não desejei senão estar ao sol ou à chuva

Ao sol quando havia sol

E à chuva quando estava chovendo

(E nunca a outra coisa),

Sentir calor e frio e vento,

E não ir mais longe.

Uma vez amei, julguei que me amariam,

Mas não fui amado.

Não fui amado pela única grande razão —

Porque não tinha que ser.

Consolei-me voltando ao sol e à chuva,

E sentando-me outra vez à porta de casa.

Os campos, afinal, não são tão verdes para os que são amados

Como para os que o não são.

Sentir é estar distraído.

 

 


“Poemas Inconjuntos”.

In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa.